The cautious transition of North Korea - an interview with Paulo Visentini and Analúcia Pereira

The paper now published in Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI Vol. 57 – July/Dec– 2014) is entitled “The cautious transition of North Korea: venture diplomacy and modernization without reform” and discuss the succession of power in North Korea and the possibility of change in the regime. Paulo Fagundes Visentini gave an interview about his research to Priscilla de Almeida Nogueira da Gama, member of the Editorial Team of RBPI.

Por Priscilla de Almeida Nogueira da Gama

1) Como abordado no decorrer do artigo, a Coréia do Norte e tida, diversas vezes, como um país governado por pessoas incapacitadas, com atitudes imprevisíveis. Contudo, quando analisada minuciosamente a política norte coreana apresenta-se sólida e bem estruturada. Por que, na sua opinião, existe a tendência de se analisar a Coreia com um país governado por “fanáticos” ?

Há um fator histórico e outro geopolítico. O primeiro tem a ver com o fato de que a Guerra da Coreia foi a primeira “não vencida” pelos EUA e diversos incidentes (como o apresamento do navio espião Pueblo pela RPDC) foram humilhantes para Washington. Além disso, contrariando as expectativas, o regime sobreviveu ao colapso da URSS e não demonstra sinais de que ruir facilmente. O segundo está relacionado à necessidade de manter o Japão e a Coreia do Sul na aliaça americana, o que só pode ser conseguido mantendo presença militar contra uma suposta ameaça, a Coreia do Norte. Mas, ao mesmo tempo, o objetivo maior é ter uma posição militar contra a China e, secundariamente, contra o oriente russo. Uma Coreia do Norte exageradamente ameaçadora legitima tal política.

2) Apesar das diversas sanções impostas e das crises econômicas vividas pelo país o regime coreano parece não estar entrando em declínio. De fato, após a ascensão de Kim Jong Un o regime parece ter se reerguido. Como a Coreia conseguiu ultrapassar essas turbulências ?

Na realidade, a grande crise dos anos 1990 foi apenas parcialmente superada. E a situação atual é diferente da pré-crise. Os mercados privados, tolerados pelo governo durante a crise, seguem existindo e expandindo, mas não foram legalizados, como na China. Então, há um equilíbrio precário, mas que não interessa a ninguém romper. Um colapso seria uma derrocada de todos. Além disso, apesar dos bloqueios, os investimentos chineses e de outros países permitiram ao país voltar a crescer e a melhorar a vida cotidiana da população.

3) A Coreia utiliza a nuclearização como forma de barganha e de manutenção do status quo na região, pois desde a Guerra Fria o país vive sob a percepção de uma ameaça constante. Essa percepção conduz Pyongyang a assumir que jamais abandonará seu programa nuclear, pois é uma forma de manutenção de sua segurança. Para contornar essa situação os analistas propõe o estabelecimento de um modus vivendi entre as Coreias preferivelmente a um status quo. Diante de seus estudos, como poderia ser estabelecido esse modus vivendi? Esse modus vivendi é plausível diante da atual conjuntura da região?

Na verdade já existe um Modus Vivendi, e muito dos incidentes são jogos calculados para fins internos ou externos. Curiosamente, ninguém deseja a reunificação: o Japão teme que uma Coreia reunificada possa virar uma concorrente mais séria; os EUA perderiam a razão de ser de sua presença militar e política na região; a Rússia perderia um espaço onde ainda é relevante politicamente; a China não deseja ter um país capitalista desenvolvido em sua fronteira e perder o Estado Tampão socialista; a Coreia do Norte não deseja porque seria absorvida; e a do Sul teria de pagar um custo elevado, inicialmente (a população não quer perder seu elevado padrão de vida para “ajudar” os irmãos do norte). Assim, por paradoxal que possa parecer, o que a RPDC deseja é um tratado de paz com os EUA (Paenmunjon foi apenas um cessar-fogo) e a garantia de apoio econômico e respeito ao seu regime (e elite dirigente).

4) Kim Jong Un, desde que assumiu o mandato, tem promovido diversas modificações internas (tentativa de modernização) e buscado apoio internacional de seus vizinhos a fim de diminuir seu isolacionismo. Essa modernização própria, entretanto, não vem acompanhada de reformas. De acordo com seus estudos, é possível que a Coreia consiga promover a modernização que almeja sem instituir reformas internas?

Quando se fala em “reformas”, a referência é o modelo chinês, que implica, junto, certa abertura econômica externa. Na China deu certo porque o país era poderoso, imenso e aliado dos EUA nos anos 1970 e 1980. No caso coreano, há o sul e a China, economicamente poderosos, e o cenário das reformas acabaria num colapso não apenas do regime, mas também das limitadas forças econômicas privadas do país (repetindo o cenário da Alemanha Oriental). Então, o modelo é construir zonas econômicas especiais (longe da capital), buscando investimentos externos e mantendo o delicado equilíbrio interno entre público e privado. Enquanto isso, há um forte investimento na qualificação científica (inclusive do exército) para, numa possível futura conjuntura mais propícia, modernizar o país sem promover reformas que ameacem o regime e a elite dirigente.

Read the article: VIZENTINI, Paulo Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. A discreta transição da Coreia do Norte: diplomacia de risco e modernização sem reforma. Rev. bras. polít. int., Brasília , v. 57, n. 2, Dec. 2014 . Available from <http://www.scielo.br/article_plus.php?pid=S0034-73292014000200176&tlng=pt&lng=en>. access on 21 Feb. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7329201400310.

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Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil ([email protected])

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