Vânia Carvalho Pinto fala sobre o artigo “Exploring the interplay between Framing and Securitization theory”

Vânia Carvalho Pinto, professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, tem a sua trajetória acadêmica inequivocamente relacionada com as dinâmicas internacionais que envolvem o Mundo Árabe. No artigo Exploring the interplay between Framing and Securitization theory: the case of the Arab Spring protests in Bahrain, publicado na edição 1/2014 (Vol. 57 - No. 1) da Revista Brasileira de Política Internacional, Vânia explora as possibilidades de ganhos analíticos decorrente da integração entre a teoria da securitização e a abordagem de enquadramento, aplicando esse modelo ao caso da intervenção militar feita em 2011 pelo Conselho de Cooperação do Golfo em 2011 em Bahrain.

Doutora em Ciência Política/Relações Internacionais pela Universidade de Hildesheim, na Alemanha (2009), com estudos estudos pós-doutorais na área de Relaçôes Internacionais realizados na Universidade de Brasília (2009), a autora fixou as suas áreas de interesse dentro da agenda de estudos internacionais em questões de gênero e política no Oriente Médio, com particular ênfase nos Países do Golfo Árabe.

Vânia concedeu a pequena entrevista abaixo sobre os resultados da sua pesquisa:

Considerando o framing (ou enquadramento) como um instrumento analítico já utilizado em diversos campos das ciências humanas, qual seria o diferencial ou a inovação de se utilizar o security framing?

Existe uma forte semelhança teórica entre o framing e a securitização. Ambos os conceitos dizem respeito à construção de algo – seja uma ameaça, um movimento social ou uma ideologia, entre outros – por um determinado ator estratégico. Este quer, com tal construção, convencer uma certa audiência a se mobilizar ou a internalizar alguma crença. O processo de elaboração é semelhante: ambos implicam a seleção, re-interpretação e reconfiguração de elementos ideacionais de modo a servir propósitos pré-determinados, visando a aceitação destes por uma determinada audiência. Security framing (ou “enquadramento de securitização”, numa tradução literal) é simplesmente uma terminologia que designa a congregação dos aportes teóricos de ambos os modelos. A necessidade de especificar melhor os modos de aplicação da teoria da securitização é hoje uma questão recorrente na literatura especializada. A abordagem estruturada em torno do conceito de framing, principalmente a oriunda de uma formulação específica dos movimentos sociais oferece essa possibilidade.

A Primavera Árabe eclodiu em diversos países de variadas formas. Por quê a escolha do Bahrein para o estudo de caso?

A “Primavera Árabe” - isto é, a contestação popular a autoridades e ordens políticas estabelecidas - ocorreu em todos os países do Oriente Médio, em maior ou menor grau desde finais de 2010. Em todos eles, os chefes de estado, fossem eles monarcas ou presidentes, esforçaram-se por justificar o modo como lidaram com os protestos. A ideia era obviamente que as suas respectivas audiências domésticas e internacionais percebessem como legítimas as ações com que se procurou fazer face às contestações. O padrão de reação aos protestos e, sobretudo, de justificação da reação aos mesmos foi mais ou menos o mesmo em todos os países árabes. Houve um misto de repressão com benefícios financeiros e a justificação da reação oficial como constituindo uma defesa da coesão nacional. Nesse sentido, poder-se-ia escolher qualquer país árabe como estudo de caso. A minha decisão de analisar o Bahrain está relacionada essencialmente com os meus interesses de pesquisa. Há algum tempo eu venho estudando a região do Golfo, à qual o Bahrain pertence. E o fato de ser este um país relativamente desconhecido, de cujos protestos se falou muito pouco (precisamente por causa das alianças regionais e internacionais em que está inserido) atraiu a minha atenção.

Considerando a sua trajetória acadêmica em geral, que motivos a levaram a interessar-se pela região do Oriente Médio?

Eu estudo o Oriente Médio há cerca de quinze anos. Tudo começou através de amizades com pessoas oriundas da região. Eu era estudante de graduação na Universidade de Coimbra e tive a oportunidade de cumprir um ano de estudos na Universidade de Leiden, Países Baixos, no âmbito do Programa Erasmus. Em Leiden entrei em contato com diversos colegas de origem árabe, que através dos seus relatos e experiências, me fizeram ganhar interesse pelo estudo desta parte do mundo. Toda a minha pós-graduação foi feita em estudos de Oriente Médio, primeiro na Universidade de Exeter, no Reino Unido, e depois na Universidade de Hildesheim, na Alemanha. Tenho me mantido no campo até hoje. Comecei com os estudos de gênero, e nos últimos anos, estimulada pelo meu ingresso como professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, tenho enveredado pela política externa dos Emirados Árabes Unidos e de outros países árabes. Atualmente, a minha pesquisa principal enfoca a autoimagem dos Emirados no sistema internacional.

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